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Orlando e o Escuro da Coragem – Ana Lúcia Merege

 

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Quem disse que adultos não leem infato juvenis? Na verdade eu comprei Orlando pensando nos meus netos, sabendo que eles demorarão pelo menos uma década para ler, afinal eu nem tenho netos. Foi só desculpa.

Mas para você que gosta de infanto juvenis ou tem crianças na família, recomendo muito Orlando, que fala da coragem de abandonar o egoísmo em favor do grupo, mesmo assim, saber confrontar os amigues quando necessário, perceber os próprios erros e aprender com eles.

Orlando é um menino de 12 anos que vive em Athelgard, a terra de fantasia criada pela autora Ana Merege. O irmão mais velho de Orlando é bom de briga, enquanto Orlando prefere a companhia de um velho mago e treinar seu falcão vesgo para a caça. Quando o rei recebe um convite para enviar um dos filhos a uma justa no Reino das Colinas Negras, ele envia o mais velho, mas Orlando acaba sendo confundido com o irmão e sendo levado por um caminho secreto ao reino distante. Orlando será obrigado a enfrentar competidores mais velhos e experientes que ele para conseguir o Escudo da Coragem, uma arma mágica e indestrutível e honrar seus pais e reino.

A história surpreende ao fugir do clássico “herói auto suficiente que não tem medo de nada.” Orlando possui poderes mágicos, mas ainda não está treinado para usá-los, e a disputa se revela muito mais do que uma demonstração de força. É preciso inteligência e principalmente trabalho em grupo para superar os obstáculos. Esta é a melhor parte do livro, além do fato de Ana Merege ter uma escrita limpa e envolvente. A medida que Orlando avanças nas etapas da competições, aprendemos algumas lições valiosas: aceitar ajuda quando necessário, discutir as possibilidades e ouvir os outros, seguir os instintos, mas só quando os resultados decididos pelo grupo não derem certo, tomar decisões difíceis e se colocar em posição de liderança quando for exigido.

O livro é bem pequeno, como qualquer infanto juvenil, com pouco espaço para desenvolver a narrativa, Ana Lucia habilmente consegue criar personagens atraentes e carismáticos para o leitor, uma história cativante, cheia de ação e acontecimentos inesperados, e um gostinho de quero mais no final da leitura. Falo sério, quero mais da pequena Ana além das aventuras na trilha secreta (outro livro infanto juvenil da série) e do pequeno Orlando e seu falcão vesgo.

Link para compra

Orlando e o Escudo da Coragem, Ana Lúcia Merege

Um pouco mais sobre o livro

Como escrevi Orlando e o Escudo da Coragem

Um pouco mais sobre a autora

http://castelodasaguias.blogspot.com/

 

 

 

 

 

 

 

Bienal 2017 – A Trilha da Fantasia

Visitar a Bienal e conseguir ver tudo, selecionar um bom livro ou HQ, e gastar o que está dentro do orçamento é tarefa quase impossível. Achar as editoras bacanas, com livros e HQs legais de Fantasia, Ficção Científica e Terror consome tempo e pernas. Então resolvi fazer uma listinha de editoras, dar umas dicas de livros que podem ser encontrados por lá e comprados sem susto. Assim quando bater a culpa porque o dinheiro já era, pelo menos o leitor se sinta satisfeito com suas escolhas.

Só nacionais, os estrangeiros tem um departamento de marketing inteirinho para eles, os autores lusófonos precisam ralar muito para se sobressair no mercado.

– Ah! Mas não tem a mesma qualidade.

Só diz isso quem nunca leu um lusófono de Fantasia/FC/Terror bem escrito, bem editado, surpreendente. Se a Europa e os EUA estão interessados no que produzimos no Brasil, com nosso tempero, por que nós, que temos os livros ao nosso alcance e na nossa língua, não nos interessaríamos?

Não pensem que é fácil para as editoras valorizarem os nacionais. Os estrangeiros chegam pagos ao Brasil, os nacionais necessitam investimentos gigantes em marketing. Além de sorte para render ou pelo menos pagar-se. A grande maioria dos editores das independentes são apaixonados pelo que fazem, lutam para continuar no mercado e zerar as contas no fim do mês e então publicar bons trabalhos nacionais. Sem estes editores os HQs e livros dos autores brasileiros ficariam para sempre perdidos, seja na gaveta ou nas intermináveis listas das plataformas de e-book. Eles  fazem uma peneira rigorosa para oferecer ao seu público livros e HQs de qualidade. Sim, já li coisa ruim estrangeira, traduzida e publicada no Brasil como se fosse o último biscoito mofado do pacote que só a tradução salvou do completo desastre.

Tem uma vantagem monstro para quem visita os estandes dos nacionais. Ter um contato direto com o autor, receber marcadores e brindes, tirar selfies e, porque somos brasileiros, ganhar um abraço e uns beijinhos. Conversar sobre o universo, saber da continuação das séries etc. Impossível com os paparicados autores internacionais. Consegue imaginar George R.R. Martin trocando beijinhos e falando da continuação de As Crônicas (Uma Canção) de Gelo e Fogo?

Para prestigiar estes editores valentes e suas editoras independentes comece a Trilha no Pavilhão Verde.

  1. Siga as setas e pare nos estandes marcados com um X
  2. Converse com os autores e editores
  3. Selecione o livro
  4. Descubra um mundo novo   

 

Trilha Beinal 2017

 

Lista dos expositores com livros legais de Fantasia, Ficção Científica e Terror e de alguns livros que recomendo, tem muita coisa bacana além dos títulos que citei, vale a visita. 

Pode ser que alguém não concorde com o gênero atribuídos aos livros, mas tentei resumir usando o gênero e no máximo em três palavras, querendo saber mais sobre o livro é só acessar o site das editoras nos links.

PAVILHÃO VERDE

Devir L14

Devir é editora e distribuidora de HQs, RPG e jogos de tabuleiro

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A Bandeira do Elefante e da Arara – Fantasia heróica com folclore nacional –

Christopher Kastensmidt (embora ele seja americano, reside há 15 anos em Porto Alegre)

Shimandur – Fantasia com São Paulo como pano de fundo – Caio Alexandre Bezarias

Mistério de Deus – Terror com toques de realidade no Brasil de 1991 – Roberto de Souza Causo.

http://devir.com.br/

Jambô – M18

Editora de HQs, games e livros de fantasia

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Crônicas das Tormentas – série de coletâneas de fantasia organizada por J. M. Trevisan com grandes nomes da fantasia nacional como Raphael Draccon, Leonel Caldela, Eduardo Spohr, Rogério Saladino etc.

O Inimigo do Mundo – fantasia épica – Leonel Caldela

Passagem Para a Escuridão – fantasia grimdark – Danilo Sarcinelli

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Ich – fantasia e terror – HQ ambientada na América do Sul – Luciano Saracino, Ariel Olivetti

Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço – ficção científica nonsense – Germana Vianna

http://jamboeditora.com.br/

Draco – M13

Só publica nacional, HQs e livros de fantasia, ficção científica e terror com qualidade.

Octopusgarden – Space Ópera Erótica – Gerson Lodi Ribeiro um dos mestres do FC nacional

Magos – 3a. coletânea de fantasia organizada pela Ana Lúcia Merege, as outras são Excalibur e Medieval

O Infinito no Meio – literatura fantástica – Priscilla Matsumoto

Space Ópera – HQ – coletânea de histórias sobre disputas espaciais.

Tempos de Sangue – Eduardo Kasse – Fantasia – 5 volumes sobre imortais e idade média.

http://editoradraco.com/

Chiado – M05

Especializada em autorxs portugueses e brasileiros

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O Labirinto dos Sonhos – Fantasia – Ema Machado

https://www.chiadoeditora.com/editora

Giz- P04

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Outra editora que investe bastante no nacional

Cira e o Velho – Fantasia Histórica no Brasil – Walter Tierno

Kaori – Fantasia Nipo brasileira – Giulia Moon

A Torre Acima do Véu – Ficção Científica Distópica – Roberta Spindler

http://www.gizeditorial.com.br/

Avec – Na Aquário CL07 e New Order M19

A Avec não tem estande na Bienal este ano, mas é possível encontrar os livros e quadrinhos da editora nos estandes da Aquário e da New Order

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Le Chevalier – HQ – Stempunk – A.Z. Cordenonsi, Fred Rubim

Guanabara Real – A Alcova da Morte – Steampunk – Enéas Tavares, Nikelen Witter, A. Z. Cordenonsi

Filhos da Lua (série) – O Legado – Marcela Rossetti

PAVILHÃO AZUL

Cia das Letras – G13

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Ninguém Nasce Herói – Ficção Científica – Erick Novello

https://www.companhiadasletras.com.br/detalhe.php?codigo=55121

Rocco G17

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As Águas Vivas Não Sabem de Si –  Ficção Científica/Fantástica – Aline Valek 

https://www.rocco.com.br/o-som-em-as-aguas-vivas-nao-sabem-de-si/

Gutemberg – G 26

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Série Anomalos – Distopia Jovem Adulto – Bárbara Morais

https://grupoautentica.com.br/gutenberg/livros/a-ilha-dos-dissidentes/951

Record – E09

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Filhos do Éden – Fantasia – Eduardo Spohr

http://www.record.com.br/colecoes_colecao.asp?id_colecao=217

 

Lógico que não precisa seguir a risca as estrelinhas, existem outros livros e editoras legais, senti muito por ter que deixar de lado alguns dos colegas escritores em razão da concisão. Ou por que a editora trabalha por demanda e neste artigo quis valorizar as editoras que investem no autor, afinal como disse Neil Gaiman: o dinheiro tem que fluir na direção do autor, não o contrário. Aceito sugestões para melhorar a trilha nos comentários.

 

Micro Contos – Como e Porque Escrever

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O que são e o que não são Micro Contos

Micro contos são narrativas muito curtas, com 300 palavras ou menos, que trazem uma história total, não parcial. Não são muito populares no Brasil, nem mesmo tem valor comercial. Então por que nós, escritores brasileiros, deveriamos perder tempo escrevendo micro contos?

Primeiro porque para o escritor qualquer forma de escrita é válida. De haicais à sagas em “n” volumes.

Escrever micro contos permite ao autor avaliar o que é importante na prosa. Trabalhar o vocabulário e escolher as palavras mais adequadas. Cortar  redundâncias e tudo o que não é essencial. O autor fica afiado na hora de escrever narrativas longas. Além do que é uma forma de arte com as palavras, um modo divertido ou profundo de contar histórias.

Precisamos saber, no entanto, o que um micro conto NÃO é: um resumo de uma história ou uma parte isolada de uma narrativa maior. Pensamentos aleatórios ou reflexões, cenários desconexos ou piadas. Ações sem contexto não são micro contos. Recortes dentro de uma narrativa maior não são micro contos.

Micro Contos são narrativas completas e como tal necessitam de enredo, elementos do arco narrativo (reviravolta, flash backs, repetições, conflitos etc.), personagens, local, tempo.

Dois micro contos e seus elementos narrativos

Assim como o conto tradicional, a linha narrativa é melhor desenvolvida se baseada em no máximo três personagens e a trama contenha elementos simples e facilmente reconhecíveis.

Acerto de Contas – Lydia Davis (considerada uma das melhores escritoras contemporâneas de narrativa curta)

 “O fato de ele não me dizer sempre a verdade faz duvidar da verdade do que ele às vezes me diz, e então tento descobrir pelos meus próprios meios se é verdade ou não o que ele está a dizer, e algumas vezes sei que não é verdade, outras vezes não sei e nunca saberei, e outras ainda, só porque ele não para de me dizer, convenço-me de que é verdade, porque não acredito que ele seja capaz de repetir tão constantemente uma mentira.”

Personagens – duas pessoas num relacionamento

Arco – estabelece a dúvida sobre o que ouve do parceiro, faz uma busca para descobrir o que é verdade, termina por convencer-se que ele às vezes não diz mentiras.

Elementos narrativos – flash back, reviravolta, conflito, repetição

Tempo – ao longo do relacionamento.

Arquíloco – séc. VII a.C.

Algum saio (guerreiro da tribo inimiga) do escudo se orgulha. Sem querer abandonei a arma num arbusto. Salvei minha vida, que me importa o escudo? Perca-se: conseguirei outro igual.

Personagens – Arquíloco e o saio

Arco – perdeu o escudo, salvou a própria vida, eliminou o arrependimento

Elementos narrativos – flash back, suspense, conflito, repetição

Tempo – durante uma batalha

Local – no campo de batalha

Dicas para escrever micro contos

  1. Mostre não conte, este conselho essencial para qualquer narrativa, deve ser seguido à risca para as narrativas curtas.
  2. Atenha-se ao que faz uma narrativa interessante, conflito, cenário, atmosfera, personagens, enredo
  3. Escreva e reescreva sua história diversas vezes, quantas forem necessárias, até que ela só mostre o essencial.
  4. Comece pelo meio, pela parte mais importante ou mais emocionante. Forneça uma guia da história ao leitor.
  5. Escolha o melhor título possível, ele fará parte da narrativa
  6. Deixe um questionamento na última linha que conduza o leitor a reler o conto para entender a mensagem. Ou seja, leve o leitor por um caminho e o empurre para outro.
  7. Coloque a conclusão no meio da história.

Neste link, Lydia Davi conta sobre seu processo criativo e mostra como um dos seus contos foi escrito. Do rascunho ao final.

 

http://www.theatlantic.com/magazine/archive/2014/07/lydia-daviss-very-short-stories/372286/

12 FUNDAMENTOS PARA ESCREVER O OUTRO – TRADUÇÃO DO ARTIGO DE DANIEL JOSÉ OLDER

“Todo o tempo que despendemos escrevendo sobre o outro, nós negligenciamos o verdadeiro problema que é escrever nós mesmos. Os privilégios sobrevivem na invisibilidade e no silêncio. Privilégios também nos cegam a respeito de quem nós somos e de como somos vistos pela sociedade à nossa volta, e não percebemos que possuímos um escudo que nos dá proteção extra no jogo da representação social.”

 

Estamos sempre escrevendo o outro, e sempre escrevendo nós mesmos. Nos deparamos com uma equação quase impossível de resolver toda vez que contamos histórias. Quando criamos personagens com origens e experiências diversas das nossas, nós estamos na verdade contando essencialmente suas histórias sob a nossa própria perspectiva.

Nós nos deparamos com discussões acaloradas sobre escrever o outro – a intersecção entre poder e identidade, privilégio e resistência –  em seminários, nas seções de comentários dos artigos e blogs, na rede social, em salas de aula. Então, como podemos escrever respeitosamente na perspectiva do outro? Aqui estão 12 orientações para iniciar este processo:

1. Pesquisar é só o começo e ainda é muito pouco

Quase todas as conferências, dissertações, blogs e seminários que tenho visto a respeito de escrever o outro podem ser resumidas em “faça sua lição de casa”. Deduz-se pelo não dito que todas as peças deste quebra-cabeças insolúvel de privilégios e poder se encaixarão perfeitamente, se fizermos nossa pesquisa. Só que não é assim. Escrever sobre pessoas que têm uma experiência de identidade diferente da nossa não é um desafio narrativo de simples solução. Vários escritores que são “especialistas” em uma cultura específica ainda criam estereótipos pobres e vulgares quando se trata de trazer esta especialização para criar personagens reais.

As raízes da prática de pesquisa ocidentalizada de culturas diversas incluem eugenia, dissecações, esterilizações forçadas e, frequentemente, o véu desumanizador da antropologia. Não estou dizendo que “toda a pesquisa é má”, mas sim que temos que ter consciência das histórias complexas e mesmo dolorosas que abordaremos para que não repitamos os traumas já causados.

Eis o que diz o escritor de American Horror Story, James Wong: “Fizemos uma pesquisa profunda sobre magia negra e claro, não existia tanta coisa para a gente trabalhar em cima porque nada disso é verdade (risos). Mas quando fazemos pesquisa, encontramos muitos símbolos sobre fertilidade e fomos juntando e misturando este e aquele até resultar na cerimônia que criamos”. A despeito da sua opinião sobre American Horror Story, positiva ou negativa, este é um exemplo excelente de como a pesquisa é somente o primeiro passo. Tendo feito uma “porção” de pesquisa, o time de escritores optou por jogar as cerimônias de fertilidade num caldeirão, misturar tudo e criar algo novo. Veja que a ideia principal era de que nenhuma destas crenças tinha alguma verdade é algo risível para o Sr. Wong. Uma mistura de elementos pode ser bem feita. No entanto, se misturada, como geralmente se faz, com flagrante desdém pelo sistema de crenças que professa, o resultado é uma massa padrão, que não é isso ou aquilo, versão sintética de uma cerimônia sagrada enraizada em tropos de racismo e desrespeito.

2. Seus parâmetros são uma merda (¹)”

Diz Juno Díaz: “A única coisa que se pode dizer de um cara que escreve na perspectiva de uma mulher é: seus parâmetros são uma merda”. A marca de um grande músico não é a sua habilidade com o instrumento (²), mas sua capacidade de ouvir. O patriarcado vem ensinando desde sempre aos homens (NT: gênero) que supostamente nós somos especialistas automáticos em qualquer assunto, então por que ouvir o que outra pessoa tem a dizer sobre o assunto? Resposta: Para escrever o outro nós temos que ouvi-lo. Para ouvir precisamos calar. E esta não é a uma tarefa simples, só esperar alguém terminar de falar para então desembuchar imediatamente seu ponto de vista. Sério. Sente-se, respire profundamente e ouça o que as pessoas em volta estão dizendo. Ouça a você mesmo, seu próprio eu. Suas dúvidas e medos, as coisas que não quer admitir. Ouça as coisas que as pessoas dizem que fazem você se sentir desconfortável. Sente-se com este desconforto. Compreenda que está errado. Então tente errar menos e vá em frente.

3. Empoderar (³) importa

Diz-se que o conflito é a espinha dorsal da história, e o poder é o cerne do conflito, o que faz a história ter importância. Mas a nossa classe raramente oferece uma discussão sobre empoderamento e suas faltas e falhas. Como escritores de ficção não esperam que sejamos versados em escrever sobre o empoderamento, os detalhes, a sutileza, a complexidade disto ou a dor no coração. Habitualmente, pesquisa de fatos toma o lugar de diálogos profundos sobre opressão e resistência.

A compreensão do empoderamento importa mais do que detalhes tangíveis.

Cada personagem tem uma relação com o poder, que inclui as faces: institucional, interpessoal, histórica e cultural. Que é representada das micro-agressões aos crimes de ódio, de orientação sexual, à imagem corporal, das mudanças nas posturas de vida devido aos aborrecimentos cotidianos e diários e no profundo trauma histórico sofrido por uma comunidade. Poder afeta a relação do personagem consigo mesmo e com os outros, sua jornada física e emocional através da história. Se você ignora isso, ao final do processo você obterá bonecas de papel ou rostos brancos pintados de preto.

 

 

Lizzie Bordello e as Piratas do Espaço de Germana Vieira – www.lizziebordello.com/

4. Esqueça o outro. você consegue escrever sobre si mesmo?

Todo o tempo que despendemos escrevendo sobre o outro, nós negligenciamos o verdadeiro problema sobre escrever nós mesmos. Os privilégios sobrevivem na invisibilidade e no silêncio. Privilégios também nos cegam a respeito de quem nós somos e de como somos vistos pela sociedade à nossa volta, e não percebemos que possuímos um escudo que nos dá proteção extra no jogo da representação social. Então vemos tantos caras bonzinhos e perfeitos, salvadores brancos e machos que fazem tudo “certo” e sabem exatamente como agir.

Você, possivelmente, não tem ideia de como os outros o percebem e, principalmente, se a imagem que faz de si mesmo é desconfortável por conta da qualidade do poder que ela perpassa. Salta na página este tipo de abstração do escritor.

Não existe escassez quando o assunto é livros de pessoas brancas falando de pessoas negras, o que não vemos muito são livros de pessoas brancas escrevendo sobre a experiência emocional, política, e social de ser um branco, os desafios e complexidades de ser branco. Nós não vemos muitos homens escrevendo sobre o patriarcado, como isso nos estragou, como diariamente ao nosso redor, aqui e ali, dançam os discutíveis gêneros binários. Sim, isto soa como tópicos para uma dissertação, mas na verdade são exatamente os tipos de conflitos internos que dão vida a um personagem.

 

5.  “Escrita racista é uma falha na construção da história”

Kwame Dawes apontou esta falha na AWP (Association of Writers and Writting Programs). Eu a mencionei anteriormente e vale a pena repetir de vez em quando. Nós falamos sobre preconceito e ódio de gênero como se eles fossem somente morais ou políticos, no entanto, essa abordagem resulta em estereótipos redundantes. Se você escreve estereótipos, sejam eles personagens, pontos na trama, ou pistas contextuais, você está escrevendo alguma porcaria que vem sendo repetida ao longo de gerações. Isso é chato, você consegue fazer melhor.

6. Caso de vida ou morte

Tendo dito que a escrita racista é um caso de como construir sua história, quero deixar claro que vai muito além disso. Normalmente o racismo é colocado em pauta como “ofensivo” ou discute-se o “politicamente correto”. Este é o ponto para debate: nem tanto isso, nem tanto aquilo. Estes formatos são uma moldura condescendente e desumanizadora do diálogo. Estamos falando de vozes continuamente silenciadas e apagadas pela corrente principal da cultura hétero-branca-machista.

Estamos falando da vida e morte de povos inteiros, estamos falando de auto estima e humanidade. Mesmo sendo adultos, com raras exceções, não percebemos como lidar com esta imagética. Pois quando criança não nos foram dadas as ferramentas para lidar com isso. Elas, as crianças, se deparam com isto mais do que ninguém. As altas taxas de suicídio e a opressão racial e de gênero que elas internalizam são reais.

Não podemos continuar criando gerações de crianças negras sob a égide de que só há espaço para elas como os caras maus nas histórias ou o figurante que vai morrer e gerações de crianças brancas pensando que estão perto de Deus só por causa da aparência. Não podemos continuar promovendo normativas sexistas hetero/cis e ideias racistas em nossa literatura. Criando uma configuração padrão de raça e gênero. Se você não está trabalhando contra isso conscientemente, está trabalhando a favor. Ser neutro não é uma opção. O luxo de se pensar deste jeito tem que acabar.

Citando Junot mais uma vez. “Eu acho que a menos que você esteja trabalhando ativa e conscientemente contra a atração gravitacional da cultura, você criará uma temática previsível com esta representação babaca de estereótipos. Sem falhas. A única maneira para fazer isso é admitir para si mesmo que você não é bom com estas questões, e estar consciente do processo de criação destes personagens.”

7. Ritual ≠ Espetáculo

Recentemente editei “Long Hidden”, uma antologia de ficção especulativa com contornos históricos. Eu e minha co-editora, Rose Fox, recebemos um grande número de submissões que não tinham nenhum elemento especulativo e apresentavam cenas de cerimônias não-cristãs. Culturas e crenças diversas de outros povos não são fantasia. Uma coisa é um semideus ou espírito andar por ai, interagindo com as pessoas – só essa interação por si terá uma certa complexidade – outra coisa é pessoas que celebram a sua crença serem incluídas no elemento fantasia, ou seja, serem consideradas não reais (NT), este tipo de coisa caracteriza-se como racismo cultural imperialista.

Além disso, a cultura de outras pessoas não é um circo, um show de horrores, um vídeo de música pop, uma paródia kitsch de um lar, uma fantasia de Halloween, uma afirmação para seu próprio ego.

Veja acima o que disse o roteirista de American Horror Story: “nada disso é real (risos)”. Se a possibilidade destas crenças serem reais é uma piada não escreva sobre elas.

No espetacular “Is Paris Burning?” Bell Hooks escreveu que “ritual é o ato cerimonial que carrega um significado… que vai além da aparência, enquanto espetáculo funciona somente como uma apresentação dramatizada feita para entreter… estes elementos de um dado ritual que são empoderadores e subvertem a ordem, podem não ser perceptíveis para quem olha de fora.

Por isso é fácil para um observador branco retratar rituais negros como espetáculo. Mais adiante, Hooks argumenta como o documentário Paris is Burning reforça esse retrato espetaculoso e desumanizante do ritual quando uma das pessoas retratadas no filme é morta: “tendo servido ao propósito do espetáculo, o filme abandona-o/a… Não há cenas de pesar pela sua morte. Falando grosseiramente, sua morte é suplantada pelo espetáculo. A morte não é  divertida.”

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8. Pesquisa do Outro: História com Estereótipo

Uma estratégia comum para escrever sobre o outro é inverter o estereótipo. O que é somente um começo, porque você continuará apoiado no clichê original, na verdade, terá que ir mais longe. Para começar uma contra narrativa, você tem que saber o que está lá fora. De outra forma trabalhará no mesmo caminho e chegará à mesma porcaria. Textos como o de Edward Said, Orientalismo, famoso por virar o jogo da antropologia branca, analisando sua própria análise, não refletem o que as pessoas querem dizer quando se referem a pesquisar sobre, quer dizer, não há a análise sobre a pesquisa na sua pesquisa, e a análise é tanto ou mais do que o subtexto da história que está contanto. Portanto, fique atento ao seu poder opressor.

 

9.  Evite o Enredo “Sou o Único Capaz de Salvar o Mundo”

 

Falando de estereótipos, vamos pegar o Mágico Negro como exemplo, usada excessivamente no meu gênero preferido, ficção especulativa (FFC). Se no seu livro existir duas pessoas negras e ambas têm superpoderes e representam forças do bem e do mal você tem um problema. Entre estes dois personagens será expressa uma gama de características e complexidade emocional genuinamente brancas. Não importa se um dos personagens seja o bonzinho, acredite, você vai errar.

Na verdade, nós temos que ultrapassar o enredo do tipo O Escolhido, “The Chosen One”. Esse tipo de trama só tem um parâmetro, nada mais é que a representação do Salvador Branco.

– Num mar de rostos negros/mulatos/índios/orientais existe uma pessoa capaz de salvar o mundo!” Damos um zoom e o escolhido é… aquele com a cara branca. –

Como pessoa, esta suposição do salvador não existiria. Como escritor, eu imaginaria desse jeito. Resolve uma série de problemas se o personagem for pré-determinado desta forma para um épico confronto final. O personagem construído dentro do molde “o único capaz” fornece a razão para o antagonista querer colocar o povo nas trevas, para o levantar das lanças e o inevitável e emocionante clímax. A mesma PORCARIA que temos visto zilhões de vezes. Vamos fazer melhor.

10. O fato de que você vai errar não é razão para não fazer

Por volta dos meus vinte anos eu decidi que gostaria de falar sobre sexismo. Eu sabia todas as palavras que queria dizer, e não disse. Um dos motivos do meu silêncio é que meu conhecimento ia até certo ponto, assumi que iria fazer alguma coisa errada, e qualquer coisa que fizesse errado seria agravada pelo fato de que eu era só um de tantos homens falando sobre sexismo. Então eu me percebi jogando comigo mesmo, um jogo mental de ironia, ego e auto percepção, totalmente sem sentido que me impedia de fazer uma coisa que sabia ser importante.

Isto é uma verdade para todos aqueles que escrevem sobre outras culturas e experiências. Você vai estragar tudo e vai ser épico. Eu sei, eu fiz isto. Não significa que não deve fazer. Significa que você deve desafiar a si mesmo a fazer melhor e melhor a cada vez, aprender com seus erros ao invés de deixar-se acovardar por eles e/ou colocar-se numa posição defensiva. Como resultado deste empreendimento se tornará um escritor melhor.

11. A Feira Livre Que é O Mercado Editorial

O cenário atual na indústria editorial ainda inclui branqueamento das capas de livros, racismo, sexismo, cis-normativas, classismo, homofobia e capacitismo (NT: preconceito contra pessoas que têm qualquer tipo de condição física debilitante ou que as torna ineptas a se adaptar aos padrões considerados socialmente “normais”: nanismo, falta de um dos membros, cegueira etc.) A maioria dos agentes e editores são brancos, e a cultura branca rege a indústria. Autores negros lutam para ter sua voz ouvida, e nas editoras que apoiam a diversidade de publicação são autores brancos que, em sua maioria, escrevem sobre personagens negros. Apropriação cultural importa neste contexto porque se trata de quem tem acesso e de quem é pago, o que vai além de problemas como construção pobre da trama ou representação desrespeitosa. Como brancos temos que compreender que, além do contexto dentro da história que escrevemos, existe um contexto social do qual nosso trabalho faz parte.

12. Já considerou o ‘POR QUÊ fazer’? E o “NÃO fazer”?

Este processo requer uma busca da alma e sentir-se desconfortável. Sem desconforto, você não cresce. Às vezes, as pessoas evitam as questões mais básicas. Por que você sente que cabe a você escrever a história de outra pessoa? Por que você tem o direito de tomar para si a voz de outro? A resposta nem sempre é não – como escritores estamos constantemente penetrando na cabeça de outras pessoas. Com muita frequência, no entanto, não paramos para considerar se é a coisa certa a fazer. Então, as vezes a resposta é mesmo não.

 

 

12 Fundamentals Of Writing “The Other” (And The Self)

http://www.buzzfeed.com/danieljoseolder/fundamentals-of-writing-the-other#.vcXPyDzw8

Daniel José Older é um escritor do Brooklyn (NY/EUA), editor e compositor, Salsa Noturna, “ghost noir colection”, foi aclamado como impressionante e original pelo  Publishers Weekly. É editor da antologia Long Hidden: Speculative Fiction from the Margins of History, e seu livro de fantasia urbana The Half Resurrection Blues, o primeiro de uma trilogia, foi lançado em janeiro deste ano pela Penguin’s Roc. Dissertações e contos de sua autoria foram publicados na  The New Haven Review, Salon, Tor, PANK, Strange Horizons, e Apex. Sua música, ponderações e aventuras de ambulância moram em ghoststar.net e @djolder.

 

 

 

Como escrevi meu conto para a Coletânea Piratas – “O Tesouro de Nossa Senhora dos Condenados”

 

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Coletânea Piratas da Editora Catavento – organizadora Karen Alvares

Este conto faz parte de um livro chamado “Na Taverna do Capitão Destroços”. A base do livro foi uma pesquisa sobre as mudanças que ocorreram depois do aparecimento dos corsários, ladrões financiados por reis e rainhas. Em todos os contos há um questionamento social referente a este período. Também adaptei várias gírias inglesas para o português e criei um pequeno dicionário que está disponível no blog.

Procurei usar sempre o mar como referência em figuras de linguagem e na própria maneira de falar dos piratas: “adernando da sua maneira de pensar”, “nome mareado” etc. Procurei saber o que comiam e bebiam, entre as bebidas a que gostei mais foi o bamboo, uma mistura de rum com água e nós moscada. O que vestiam e como os anos podem marcar o corpo das pessoas submetidas às intempéries em alto mar. E também deixar a narrativa alegre e um pouco “tonta” já que todos estavam sempre bêbados e o mundo dava voltas. Eyre Austen foi baseada em uma figura real, que liderou uma frota em companhia de sua amada.

Construí uma história bem tradicional com piratas em pernas de pau, macacos bêbados, mundo de homens e mulheres livres, fantasiosa nas palavras dos piratas, mas coberta de realidade. Os tesouros são perecíveis só o que restará no fim das nossas vidas são as aventuras que tivemos.

http://editoracatavento.com/piratas1.html

Os marujos, timoneiros e palitos embarcaram nos galeões, dirigíveis e mercado paralelo dos capitães: Karen Alvares, Melissa de Sá, Ana Lúcia Merege, João Beraldo, Paola Siviero, Fabiana Madruga, Sabrina M. Marcondes, Luana Tsuki, Albarus Andreos.

Cobaias de Lázaro – Sendo Cobaias de Nós Mesmos

 

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O professor pede aos alunos para formarem um grupo de cinco para um trabalho que inclua apresentação, cartaz de cartolina com fotos aleatórias, texto que ninguém vai ler e leitura do material pesquisado em frente de toda a classe. Reunião, com refrigerante e salgadinho, na casa do fulane. Dos cinco, só vão três. Um faz a pesquisa na internet e Ctrl+C/Ctrl+P, outro cola as fotos na cartolina e o outro fica lá só paquerando o irmão/irmã do fulano. Quando o trabalho não sobra todo para o tal fulane, porque ninguém foi na reunião. Salvo se cinco forem os nerds da escola.

Esta fórmula também pode se aplicar ao mundo do trabalho, tendo em mente que numa empresa trabalham adultos, há sempre aquele que faz ou acha que faz mais que os outros e aquele que fala que não ganha para isso. A não ser que as pessoas que compõe o staff  (não se diz grupo no ambiente corporativo, vamos gastar um pouco de inglês) sejam muito bem preparadas, bem pagas e levem o profissionalismo a sério. Sejam nerds no trabalho.

Nesta lógica, um livro em conjunto escrito por um bando de nerds iria dar certo. Só o fato de sermos nerds, no entanto, não bastaria. O que houve foi uma química perfeita, combinação de diferentes cabeças e maneiras de ver o projeto tendo como catalisador a amizade. Daquele tipo especial, que respeita as ideias do outro, sentindo segurança para criticar e ser criticado, porque sabe não vai perder um amigo só por causa de uma opinião divergente.

O Início

Um pouco antes do fim da Skynerd (rede social dos fãs do JovemNerd) um grupo de escritores que se encontrava por lá e costumava trocar textos, dar pitaco nos textos dos outros, postar desafios e informações, participar do famoso catálogo do #eberfrog, decidiu fazer um curso online de Storytelling e para trocar informações. Abrimos uma página em outra rede social.  Este grupo permaneceu unido e produtivo e em abril de 2014 alguém teve a ideia de fazer um livro com os contos da grupo.

Planejamento

A chave para todo e qualquer projeto é o planejamento. Responder as cinco perguntas.

1. Quem?

Todos somos escritores amadores, com pouca ou nenhuma experiência editorial. Melhor que todos sejam “chegados”. Aqueles que trocam figurinhas na rede, postam trabalhos etc. Depois de um rápido bate papo, enviamos convites por mensagem para esses “chegados” e marcamos a primeira reunião. Quinze aceitaram participar. Também pisamos na bola deixando de convidar gente muito boa como Rodrigo Van Kampen, Daniel Rossi, Anderson DC etc.

O público neste “Quem?” seriam nossos amigos, os amantes de livros e histórias de fantasia, ficção-científica e mistério.

2. O que?

Na nossa primeira reunião via skype, dez compareceram, definimos que não escolheríamos um tema, ele seria livre dentro dos temas que apreciamos: fantasia, ficção científica, mistério. Teríamos quinze contos, em primeira pessoa, em cada conto um protagonista, três contos seriam escritos posteriormente com base nos outros doze, tivemos dúvidas se isso poderia funcionar, mas seguimos em frente.

3. Como?

Então definimos as funções de cada um dentro do grupo. Escolhemos quatro editores que viraram cinco, uma plataforma online para que os editores pudessem revisar e dar conselhos para os autores. Delegamos responsabilidades como contabilidade, marketing e a contratação dos parceiros que precisaríamos para que  o trabalho fosse o mais profissional possível. Optamos por publicar em e-book para que os custos fossem mínimos, já que tinha gente quase sem capital. Dividimos igualmente os custos pelos participantes em parcelas mensais.

4. Quando?

Fizemos um cronograma com prazos para todas as etapas: entrega dos contos, revisão pelos editores, reuniões, montagem, elaboração dos anexos e contos chave, entrega para a leitura crítica e revisão, proposta para o capista, pagamentos etc.

5. Onde?

Sobre a questão do lançamento decidimos pensar depois, quando o trabalho estivesse pronto pois dependeria da disponibilidade de distribuição e marketing.

O Trabalho

1. Os contos

Como somos criadores, sabemos que a inspiração não é uma constante. Um dia estamos bem e escrevemos muito, outro dia não nos sentimos preparados para criar. Como seres humanos nosso comprometimento é relativo, a importância que damos aos diferentes laços que criamos: profissionais, sociais, afetivos estão sempre sobre uma balança para escolhermos o que pesa mais no momento de decidir o que fazer. Alguém iria dar para trás, ou na condição de criador ou de ser humano.

A proposta para burlar estes empecilhos foi dividir o livro em 15 partes. Não na ordem em que são apresentados no livro, esta decisão foi tomada de acordo com a análise do conjunto. Cada escolheu dois números aleatórios, 1 e 5, entre os 15. Cada número podia ser escolhido duas vezes, outro participante escolheu 1 e 7, outro mais 4 e 15. Então cada participante escreveu dois contos, mas só um foi escolhido pelos editores. Se para alguém faltasse inspiração ou comprometimento, teríamos reserva. Estratégia que funcionou muito bem, recebemos mais contos do que precisávamos e foi possível escolher e preencher as lacunas deixadas pelos desistentes. Terminamos o trabalho com dez dos quinze participantes, entre os desistentes estava aquele que lançou a ideia para o grupo.

2. Serviços Profissionais

A capista, Sil Boriani, já fazia parte do grupo, já sabíamos da sua qualidade técnica, tivemos alguns problemas na definição do que precisaríamos no contrato e da próxima vez solicitaremos também material que possa ser usado para o marketing. Fora estes detalhes burocráticos e técnicos, ficamos todos encantados durante o processo, pois à medida que o trabalho da capa avançava, Sil disponibilizava os desenhos para nossa opinião, que eram no nível “UAU”, o resultado é o que está na imagem acima.

Para leitura crítica e revisão contamos com indicações e fizemos orçamentos. Não escolhemos pelo preço e sim pela competência e tivemos a felicidade de contar com Ana Lúcia Merege como parceira. Se era competência o que queríamos, conseguimos além da conta.

3. Os valores

Captamos os valores para pagar os profissionais e outros custos ao longo de cinco meses, enquanto o trabalho era realizado, para não pesar no bolso de ninguém. Estratégia que não deu certo, as cobranças eram intermináveis, da próxima vez faremos de forma diferente.

4. Montagem

Escolhidos os contos, percebemos que eles abordavam um tema comum. “Como se o grupo tivesse uma conexão neural imperceptível” diria o fantasioso. Um dos contos se mostrou perfeito para encerrar o livro. Nos reunimos algumas vezes até ter certeza de qual ordem ficaria melhor para o desenrolar da história. Passamos para a elaboração dos contos chaves, que uniriam a história. Depois que estes ficaram prontos, foram feitos alguns adendos – textos explicativos, mas não muito, em terceira pessoa sobre o universo do livro. O que deu ao livro aquele ar de laboratório e levou a escolha do nome, “Cobaias de Lázaro”.

Dez meses

Trabalho pronto, vamos registrar na Biblioteca Nacional para garantir os direitos autorais. Novela mais longa e enrolada do que a trilogia do “Hobbit”. Greve do Ministério da Cultura, burocracia, papelada que os autores não enviam. Outra coisa que faremos diferente. Gostaríamos de ter lançado o livro no Natal, ficou para depois do Carnaval.

Dez meses, ou sete se descontarmos a greve, parece muito tempo para um livro de pouco mais de 80 páginas. Boa parte deste tempo foi gasto para avaliar se todos concordavam com as decisões tomadas pelos editores e com perguntas aos participantes sobre como deveríamos agir e o que fazer, com pesquisas e coleta de informações sobre o mercado.

Parece também muita conversa para pouco texto. Mas foi justamente a conversa e a paciência que resultaram no “Cobaias de Lázaro”. Fizemos o que queríamos, gostamos do resultado e nos dá orgulho e prazer vê-lo pronto. Foi divertido e ainda está sendo.

Principalmente: aprendemos muito durante o processo com nossos erros e acertos e vamos fazer de novo, este ano mesmo. Melhor.

Agradecimentos

A todos, sem exceção, mesmo aos desistentes.

E à nossa conexão neural invisível.

Editores, contabilistas e marketeiros

Claudia Dugim – aqui mesmo (editora, contabilista e pitaqueira)

Sérgio Suzart – https://www.facebook.com/zillianpage (editor honorário)

Giovani Arieira –  http://oarieira.blogspot.com.br/ (editor internacional)

Carlos Moffatt –  http://www.carlosmoffatt.com.br/ (editor e marketeiro)

Eber Dantas – http://www.thegeekers.com.br/ (editor e famosão)

Participantes

Eduardo Prota – http://www.infinitoslivros.com/

Guilherme Vertamatti – http://gamehall.uol.com.br/meialua/costelas-e-hidromel

Isaac Alves Moreira – https://skyisaac.wordpress.com/

Marco Antonio Febrini Jr

http://novedragoes.blogspot.com.br

http://acc.descolados.com/

Ricardo Strowitzky – sei lá, ele também não sabe, mas dá para encontrar pelo facebook, twitter, instagram, youtube etc.

Links relacionados:

LEIA o conto “Atormentando Pilar” na íntegra em:
• Wattpad: http://www.wattpad.com/…/32908377-atormentando-pilar-de…
• Widbook: http://www.widbook.com/ebook/read/atormentando-pilar

COMPRE:
• Amazon: http://www.amazon.com.br/dp/B00TERUOMY

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Capas completas: Dois Lados, Duas Vidas + Piratas

Mais das aventuras de Ogumé e Timbo aqui no Piratas da Editora Catavento com organização competente da Karen Alvarez

Eu, Papel e Palavras

PARA TUDO! Como assim você ainda não aproveitou as ofertas de pré-venda da Editora Cata-vento? Sério?! Pois então, só pra deixar você com mais vontade, olha só as capas completas de Dois Lados, Duas Vidas e de Piratas!

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“Eu sabia que você iria voltar.”

Você é capaz de perdoar? E de perdoar a si mesmo?
Vivian e Gabriel se encontram, desencontram e se perseguem por toda uma vida – ou vidas. Os dois provam intensamente o amor, a dor e o ódio. Em Alameda dos Pesadelos você conheceu a história de Vivian. Agora você pode conhecer a de Gabriel.
Nos dois contos de Dois Lados, Duas Vidas Vivian e Gabriel revelam outra parte de suas vidas.
Toda história tem dois lados. Está na hora de conhecê-los.

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Coisas que Gostei em A Torre Acima do Véu de Roberta Spindler – Ed. Giz

Sem título Como já disse das minhas resenhas, elas não são assim “resenhas” de que se possa dizer “Ah! Que resenha! Bela resenha esta”,  Deveria ter falado sobre A Torre Acima do Véu há duas semanas, pois gosto de falar dos livros assim que termino a leitura, sem problemas, este livro é bom e livros bons grudam em nossas mentes.

Li e não me lembro onde uma “crítica” sobre A Torre Acima do Véu ser quase juvenil, na minha opinião, o que não desmerece em nada o livro, ninguém precisa rotular seu público para escrever para ele, não nos dias de hoje, tenho 55 anos e adorei o livro. Primeiro por que é o tipo de livro/história que gosto, distopia urbana com protagonistas fortes e independentes. Segundo, há muitos escritores que forçam a barra nos diálogos ou nas cenas para parecerem “adultos descolados”, sem que nada seja acrescentado à história.

Gostei dos “superpoderes” que são algumas vantagens genéticas perfeitamente explicáveis tornando a história e os protagonistas reais e críveis. Beca, a menina de 20 anos, personagem principal, é uma saltadora, alguém com musculatura e força mais desenvolvidas. Os teleportadores são licença poética, a trama fica muito mais emocionante com eles.

Emoção e ação é o que há de sobra no bem escrito A Torre Acima do Véu, e não é fácil criar um mundo futurista, pós-apocalíptico, distópico. O leitor deste gênero é atento aos detalhes, esmiúça os acontecimentos e aponta suas falhas. Eu mesmo, no início do livro, apontava possíveis inconsistências, que logo se dissipavam. Passada a desconfiança inicial, a história estava lá, plena: personagens com suas vozes e características marcantes, cenários descritos para envolver a história, não suplantá-la, uma trama contagiante do começo ao fim. O que mais gostei em A Torre Acima do Véu foi:

1 – Rio-Aires, é aqui mesmo que se passa esta distopia, os personagens são latinos, parecem-se conosco, falam como nós. Fora os da Torre que são árabes.

2 – Nas entrelinhas do estilo de Roberta Spindler, ainda marcado pelos RPGs e traduções dos livros de fantasia e seus adjetivos “focadamente estranhos”, é possível ver uma escritora sensível e vigorosa, capaz de transmitir para o leitor o que o personagem sente para além da ação/cenário à sua volta.

Deixem-se envolver pela névoa de A Torre Acima do Véu de Roberta Spindler, editora Giz, 271 páginas. http://rspindler.tumblr.com/ http://www.gizeditorial.com.br/web/titulos/?book=174 imagem

Coisas que gostei em “Alameda dos Pesadelos” de Karen Alvares – Ed. Catavento

 

Alameda

Comparar livros a  coisas que agucem os sentidos como bebidas ou comidas é uma boa forma de transmitir o que sentimos ao lê-lo: vinhos, perfumes, a brisa do mar na pele.

O perfume da pessoa que amamos que resiste naquela peça de roupa e usamos para recordá-la. A folha de cheiro estranho, nem tempero, nem jasmim. O iogurte com geleia de fruta no fundo que comemos de uma vez para chegar ao docinho do final, em Alameda dos Pesadelos esse docinho talvez seja a folha de cheiro estranho ou a peça de roupa de cujo perfume só restou o de guardado.

O que vai te encontrar na Alameda dos Pesadelos são sentimentos misturados, recordações doloridas, constatações incômodas e doces revelações.

Devorei o livro em 4 dias, não lia assim tão avidamente desde o best-seller de Rafael Montes “Dias Perfeitos”, com quem gostaria de comparar o livro de Karen Alvares, os dois se completam, o que falta em um (no bom sentido) sobra no outro, mas não é esse o caso, talvez eu faça um infográfico, quando aprender a fazer um.

A história é tensa e emocionante, a linguagem de Karen Álvares é moderna e vívida. A cidade de São Paulo é o cenário desta história, no que ela tem de opressiva e caótica: o tráfego, as multidões, a correria do trabalho, moldura perfeita para a saga da protagonista Vivian e suas tribulações solitárias. Tudo no livro remete a esta solidão de alma que Vivian carrega, mesmo na companhia do atencioso pai ou quando consegue alguns momentos com o filho depois da longa jornada de trabalho. Tudo no dia a dia de Vivian é doloroso e arrastado. Impossível não gerar empatia e torcer para que as coisas deem certo.

O antagonista Gabriel costura as esgarçadas linhas do caminho de Vivian com sua obcessão. Vivian não consegue distinguir se a perseguição de Gabriel é real ou fruto de sua atormentada mente, em consequência a depressão da moça se agrava. No correr das páginas, a autora abandona  o leitor na mesma alameda e o expõe  aos mesmos pesadelos de Vivian.

Quanto ao caráter do suspense. Ao contrário do livro do Rafael, escrito em primeira pessoa, que tem o objetivo de transportar o leitor para a cabeça doentia do protagonista; o leitor espera que seu alvo se salve das garras físicas do seu sequestrador ao final – esse inesperado. No livro de Karen, em terceira pessoa, a catarse leva o leitor a partilhar a busca de Vivian para salvação de si própria.

O que mais gostei no livro de Karen é algo bem pessoal: lembrar de minha mãe e meu pai e de como eles foram importantes na minha vida, principalmente quando decidi criar meu filho sozinha.

 

https://papelepalavras.wordpress.com/author/karenalvares/

http://editoracatavento.com/alameda.html

Coisas que gostei em “O Castelo das Águias” de Ana Lúcia Merege – Ed. Draco

 

O Castelo

Eu sou uma noob com esta coisa de resenhas.

Não faço resenhas porque só leio o que gosto. Como vou criticar meu próprio gosto?! Muito eclético, diga-se. Se não gosto de algum livro, leio só um pouquinho e pronto, e para ser justa na avaliação teria que ler todo o livro. Na minha idade ninguém me obrigaria a fazer o que não quero. E sou muito dura quando critico de verdade. Ô coisa boa envelhecer! Pode-se dizer o que se pensa, sem medo de parecer ridículo. A idade vai deixando a gente cada vez mais livre, mais curvo, mais feliz, menos conformado.

Então estas linhas não são uma resenha, são pedaços de amor sobre coisas que gostei de ler recentemente. Começarei pelo que li no segundo semestre de 2014, só nacionais, e o primeiro foi  O Castelo das Águias  de Ana Lúcia Merege

 

Mais informações: http://castelodasaguias.blogspot.com.br/ – http://estantemagica.blogspot.com.br/

Este é um livro de brasileira para brasileiros, não se sente o vício de linguagem das traduções mal feitas ou dos manuais de RPG que andam transformando jovens autores em autômatos do clichê e do pleonasmo. Uma obra cuidadosa, as palavras bem colocadas não deixam dúvidas no que se quer dizer ou atrapalham o entendimento do leitor.

Anna de Bryke é uma elfa meia humana, ou vice-versa, que vai ser professora de sagas numa Escola de Magia, o Castelo das Águias, em Vrindavhan, e este é o nome mais complicado do livro, a autora teve a decência de escolher nomes simples e jogar um pouco de pó de magia e pesquisa em cima deles. Nesta escola, Anna conhece o mago Kieran, por quem se apaixona, aos poucos e discretamente, bem ao estilo e tradições da época quase renascentista onde se passa a história, o que achei uma escolha bem feliz.

Lado a lado com o romance existe um conflito político entre duas regiões no mapa deste mundo circular: dividido em quatro partes, como quatro estações, quatro pontos cardeais, quatro modos de vida. Este conflito leva à disputa pelas águias e à possibilidade de transformá-las em máquinas de guerra através da magia. Magia sem referências a Harry Potter, onde os poderes beiram a realidade, nem superficiais, nem super-fantasiosos, dose certa de coerência.

As vezes delicada, as vezes destemida, as decisões que a protagonista tem que tomar são uma alegoria para as primeiras decisões do jovem que começa a encarar a vida adulta, mesmo os de hoje, afinal não mudamos tanto assim. E o livro consegue fazer de Anna a ligação entre todos os personagens, não deixando pontas soltas e garantindo seu protagonismo.

Só gostaria que a autora tivesse explorado um pouco mais as cores, mostrasse melhor este cenário tão colorido, não consegui sentir uma ligação emocional forte ou profunda o suficiente.

E que venha o livro dois “A Ilha dos Ossos”

http://estantemagica.blogspot.com.br/2011/01/arte-do-descarte.html

http://editoradraco.com/2011/04/02/o-castelo-das-aguias-de-ana-lucia-merege-2/