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Tomando Críticas e Se Sentindo Bem – Dicas Para o Escritor Iniciante 25

crítica

 

“Nossa! Não é que seja o vestido de noiva mais feio que já vi, mas não combina com você, ele te deixa gorda, minha filha… Agora vamos que a porta da igreja já abriu.

A noiva entra na igreja aos prantos, todos acham que é felicidade.”

Ninguém gosta de receber críticas. Jeito infalível de conquistar pessoas no primeiro contato é elogiando-as, todo bom vendedor sabe disso. Apesar de ansiarmos por elogios, também esperamos por repreensões, não quer dizer que nos preparamos para recebê-las ou nos sentiremos bem ao ouvi-las.

No entanto, se mudarmos nossa atitude e prepararmos nossas mentes para as críticas, poderemos aliviar seus efeitos negativos sobre a nossa autoestima e utilizá-las a nosso favor.

Há duas situações que nos impulsionam a criar, ligadas à resposta que recebemos dos nossos pais e amigos quando mostramos nosso trabalho. Na primeira recebemos congratulações, tapinhas nas costas, afinal eles nos amam, portanto nos admiram para além do que fazemos. Estimulados nos dispomos a ir adiante, trabalhar mais, estudar mais e nos aprimorar para que sua admiração nunca cesse. Na segunda, recebemos indiferença e escárnio das mesmas pessoas e somos estimulados a provar nossa capacidade para que um dia conquistemos sua admiração.

São situações antagônicas, mas as duas nos direcionam a buscar somente admiração e respeito dos outros, não nos preparam para críticas positivas. Inconscientemente a crítica gera sentimentos de falta de amor e rejeição, por que ela está intimamente ligada aos laços afetivos que desenvolvemos e assim a projetamos para o mundo.

Por isso é muito comum reagirmos às críticas negativas com observações como “Esta pessoa não me conhece para falar do meu trabalho desta forma”, “Se esta pessoa não entende o que escrevo,problema dela, se tivesse lido direito entenderia”, “Não gostou, faz melhor que quero ver se consegue”, “#$%&¨%$@” ou chorando, ficando deprimido, abandonando o projeto. Quem nunca teve um professor que gostava de diminuir os alunos e cujas críticas fizeram com que odiasse a matéria que ele ensinava¿

Lembrando o que foi dito em outros capítulos, o escritor escreve para seu público, precisa de leitores. Não escreve nem para si próprio, nem para seus pais ou amigos. É o analista que vai dizer o que está errado com ele antes que o leitor o rejeite, pois pessoas que não te conhecem, não tem laços afetivos com você é que irão ler sua história, ela precisa estar pronta para eles.

Devemos nos preparar com isenção de sentimentos para as críticas, elas são sempre positivas, mesmo quando descem o cacete no que fazemos, mesmo que injustas, nos fazem olhar para dentro de nós mesmos, buscar os porquês da nossa necessidade criativa. Um pai não nega uma injeção ao filho pequeno, mesmo que doa muito, se isso o curar de uma doença. Deixe as emoções de lado e ouça o que outros têm a dizer como se o trabalho não fosse seu.

Só Elogios

Leitores beta são pessoas comuns, que podem ler seu livro antes mesmo da primeira revisão. E darão uma opinião geral sobre ele: se gostaram, se não e por que:

Como escolher seus betas:

Antes de procurar um leitor crítico ou agente literário (as vezes as duas funções são feitas pela mesma pessoa), tente obter alguns feed-backs de leitores seus conhecidos e amigos (desconhecidos só depois da obra registrada). Alguns requisitos para escolher bem:

 

1 – Se gosta de ler, tem o hábito da leitura. Não adianta entregar seu livro para aquela pessoa da faculdade de quem você está a fim só para que se admire com o fato de você ter escrito um livro.

2 – Se faz o gênero desta pessoa, ela gosta de romances e escrevemos terror, é melhor procurar entre os que gostam do gênero, eles lhe darão um retorno condizente com o conteúdo do seu livro.

3 – Se a pessoa tem disponibilidade para ler até o fim e apontar os erros. Seus amigos próximos vão te elogiar porque gostam de você, irão justificar seus erros durante a leitura com a lente da amizade. São aquelas pessoas que vão dizer: “Nossa! Demais! Adorei!” – mesmo se tiver uma porcaria. Isso insufla o ego, mas não melhora seu trabalho.

4 – O melhor beta é aquele que também escreve, por isso é bom formar um círculo de amigos escritores com quem trocar ideias e originais.

Não entregue seu original para muita gente, uma a três pessoas bem escolhidas são o suficiente. Se os leitores se sentem incomodados com personagens ou com as cores que demos a eles, se todos os apontam como clichês, machistas, preconceituosos, os vilões são fracos e as dúvidas, muitas. Jogue tudo fora antes mesmo de passar na mão do crítico e recomece.

 

Antes de procurar uma editora ou publicar seu livro e depois de registrado, tente obter o máximo de respostas às leituras. Ao escolher o leitor beta verifique:

1 – Se gosta de ler, tem o hábito da leitura. Não adianta entregar seu livro para aquela garota/o da faculdade de quem você está afim só para que ela/ele se admire com a sua obra.

2 – Se  seu livro faz gênero deste leitor. Ela gosta de romances e escrevemos terror, é melhor procurar entre os que gostam do gênero, eles lhe darão um retorno condizente com o conteúdo do seu livro, já leram outros e podem apontar os problemas.

3 – Se a pessoa tem disponibilidade para ler até o fim e apontar os erros. Se o único retorno que espera receber é “gostei” ou “não gostei” não ajudará no esforço em aprimorar o que fazemos.

 

Leitor Crítico

Antes da revisão e copidesque do seu livro, entregue-o a um leitor crítico. Para escolher, verifique se ele já trabalhou com leituras do seu gênero, se puder solicite informações de escritores que usaram seus serviços. Este profissional vai vasculhar seu livro atrás de falhas mais profundas do que o copidesquista, embora na análise das partes as duas funções se confundam. Sua função principal é analisar o todo e dar opiniões sobre vários aspectos:

Título – se condiz com a história.

Estrutura – analise do gênero literário e como o livro se situa nele.

Enredo – se foi bem desenvolvido e de que maneira.

Cenas, Cenários, Diálogos – quais os pontos positivos e negativos.

Tensão emocional – os micro clímax e o clímax são percebidos corretamente

Personagens – se são carismáticos e tem personalidade própria

Discurso – se o livro é equilibrado mantendo a mesma característica discursiva ao longo do texto e se há problemas entre contar/mostrar

Análise Estilística – se o autor é elegante, profissional ou não tem estilo próprio.

Elementos Simbólicos – emprego correto

Vícios de Linguagem – recorrência

Final – se o leitor terá uma reação positiva, mesmo em se tratando de parte de uma trilogia, pois o livro tem que fechar o arco narrativo.

Explicada a complexidade da análise do leitor crítico, você deve estar pensando que é um negócio caro. Sim, com certeza. Entenda o seu livro como o cachorrinho ou gatinho a quem você ama como parte da família e que de repente fica doente, você não mede esforços para pagar a conta do veterinário nem que seja em 12 vezes. Seu livro já nasceu doente e quanto mais iniciante o escritor é, mais fraco o livro, então faça sua poupança à medida que escreve para não pesar no final.

Como tirar o melhor proveito das críticas

O leitor crítico é mais incisivo, portanto o escritor tem que ser mais aberto às mudanças e interferências, e consequentemente às opiniões que possam diminuir a sua autoestima. Ao receber a avaliação, baixe a bola, encare a realidade e mãos à obra. A opinião do leitor crítico não é um ultimato, se sentir-se inseguro busque outra opinião. Não entenda como um carimbo de aprovação ou recusa, a leitura crítica é muito mais uma alavanca para impulsionar o próprio nível crítico do autor e melhorar seu desempenho.

Preste bem atenção em tudo o que o leitor crítico tem a dizer, não descarte nenhuma sugestão. No entanto o livro é seu e você pode muito bem mudar. Faça uma análise dos conselhos recebidos e no caso de sentir-se desconfortável com alguns deles, questione-se se a mudança lhe fará bem. Por exemplo, o crítico/leitor diz que uma determinada passagem é desnecessária, mas nós gostamos do que está escrito, pois tem uma poética própria, há várias opções: guardar para outra obra, torna-la importante, arranjar outra posição em que ela seja relevante.

Se o leitor/crítico não entendeu uma passagem que está clara para nós, pode ser por que a passagem não está bem resolvida. Fazemos um comentário pequeno sobre uma passagem importante e não complementamos esta informação, para nós que estamos dentro da história parece que todos irão entender, mas não é o que acontece. Insira Informações.

Se o crítico e os leitores se sentem incomodados com personagens ou com as cores que damos a estes personagens, podemos avaliar a necessidade da mudança e verificar se na hora de delinear o personagem notamos este desconforto ou se ele é proposital ao caráter do personagem, mas não ficou claro. Adapte.

Não se incomode se tiver que injetar coisas novas, costurar lacunas, amputar partes desnecessárias. Faça o que tiver que fazer para que seu livro sobreviva e passe a sua mensagem de forma que seus leitores entendam.

Agente Literário

O agente literário é um leitor crítico contratado por uma editora para avaliar os originais recebidos. E acredite, são muitos! E por trás de cada um deles há um escritor esperando virar estrela.

Os bons agentes são pagos pelas editoras e não são de fácil acesso. Mandar seu original direto para algum deles sem que seja solicitado é destinar seu livro para a prateleira coberta com pó do esquecimento. Para não dizer lixeira. Portanto, é preciso que o agente encontre você. Como? Toda vez que você encaminhar livros para a editora é o agente que receberá sua oferta e, antes de ler, ele avaliará entre outras:

1. A necessidade do mercado em relação à sua proposta literária,

2. A sua carreira (participação em concursos, contos publicados, formação, blog etc.),

3. O seu posicionamento profissional através de feed-back dos veículos nos quais já tenha publicado. (Não é bom discutir nas redes sociais, com leitores e outros autores.)

Se depois desta análise inicial concluir que você tem algum potencial ele lerá o que escreveu. Você pode também ser indicado por alguém para este agente, mas não se iluda, com certeza passará pelo mesmo processo de avaliação prévia. Prepare-se. Algumas dicas para uma boa apresentação sua e de seus originais estarão num próximo capítulo.